18 fevereiro, 2010
Carolina
She falters some feelings that I cannot mean
She comes to me and stares at him
She annoys me just for being
She loves me when I get sick
She ignores me when she's with him
She taps my face for my irritation
She taps my face bringing me joy
She says she misses me
She never says to me 'good bye'.
27 dezembro, 2009
26 dezembro, 2009
08 dezembro, 2009
Riples, riples
come and go rippling, rippling
26 novembro, 2009
Eco and Narciso
The harm of existence
The man and his disturbance. Yes, he had character; yes, he was noteworthy but something affected him. He suffered instinctively. He himself felt sensitive of almost everything even for the moments of sullenness and severity. He had a good sense of humor, a great sense of humor, he would be able to beam radiantly if a puppy joked with him however, tears hastily would come to his face, not merry tears, not merry tears, not merry. Anyway, sank in crisis, he could be who he wanted: the poet and the child, the elegance and the failure.
He was drawn in miasma that touched everything around him. In his bulging, he could not bear himself who was boring and with a sigh and a weight in his semblance, bending the corners of the mouth, got things off his chest:
-Why so that human sensitivity if abjection is far more fascinating?
He poured out his sorrows as if to reduce its load but he only managed to realize how much he was ill, how much he was affected and the weight of his conscience seemed to fall upon him. When he sank the weight of his body on his knees, wearing him out, it was as a ' c ', a ' c ' of carelessness and if curving a bit more, it was as a ' s ', a ' s ' of solitude. And so on, his disagreement collapsing with his body.
Despite the countless friends and circles he attended, his bareness wore to the bleak, to the devastation. He was unusual. Although several times he tried to get rid of his disease, his mood would not have allowed it. He knew that there was no cure, because there would not be a cure for his existential crisis and minding it, his life progressed tortuously.
Why struggle to change your nature when our fate can be written in the stars? Life is complex, unsung and paradoxical. Life is a moment which comes to pass once and can last for one day, half an hour or a hundred years. Nevertheless, all this time is magnificently equal - to live; to exist is the real simple sense of permanence. Ah! poor the man, poor the man who, like this, wishes to be whoever he aspired to and still try to find a reason to live.
17 novembro, 2009
Sem título
Dominou-se pelos lampejos
Incessantes das plêiades
Que alardavam em suas chamas
E brilhavam toda sua magnificência
Sob seu fulgor
Um poeta malogrado
Refletia no seu choro o céu chamuscado
Da plêiade mais distante
Dependeu-se uma estrela
Riscando os campos negros
Atingindo o pranto do homem
Agora, tudo era rastro
Tudo era poeira
A ferida do ser
na boca,
o gosto de sangue
no sangue,
o fervor da vida
na vida,
a amargura do ser
de ser,
uma grande ferida
(poema antigo achado nas achaduras)
20 setembro, 2009
18 março, 2009
Ela

O café, atabalhoado de gente, parecia não se incomodar com a imagem da mulher revirando sua bolsa, arrancando lá de dentro um maço de cigarros amassado e molhado. Trêmula - de frio ou por conseqüência da decisão tomada há poucos instantes –, com a carranca pálida, manchada de maquiagem, mal sustentava o cigarro. A boca, miúda e fina – um traço, borrada da cor que deveria ser dona, tragava e lançava lufadas mortiças. Pediu e serviu-se de café com uísque. A luz, débil, que pendia sobre sua cabeça, estampava no cenho, mais acentuada, as expressões dolentes.
A noite rompeu imperiosa em sombras e néons. A calçada, molhada e suja, refletindo os faróis, era ferida com o pisar do salto trôpego, escarlate, envernizado. Os pedestres se esbarravam inevitavelmente. A mulher passava alheia a isso, heterogênea à massa. Sua dor não vestia seu corpo e ela cambaleava rua adiante. Seu trote, pasmódico, mole, não escondia - pelo contrário, alarmava a curva desenhada em seu dorso, arquejado, inflexível. Que mulher doente! Pensaria qualquer um se a notassem.
Uma mão se estende e prontamente pára o ônibus. Sobe. Parte saculejante o transporte carregando os conflitos e alegrias dos corpos de seus usuários. Para ela, o ônibus parece se arrastar. A criança, debruçada no banco da frente, exibe um sorriso que não pode ser para mais ninguém senão ela. O ônibus desce vertiginosamente a ladeira. Ela sente um gelo na barriga e chora.
19 novembro, 2008
A dor de existir²

Podia ser quem quisesse. Um poeta malogrado em sua escrita logorréica à sua amada, uma criança de fala e movimentos débeis, um homem atazanado em seus próprios conflitos, a própria elegância e cortesia ou ainda um fracasso. Ele só não podia ser apenas uma coisa interinamente. Oscilava como o tempo que em suas frações menores que milésimos, mais infames que milésimos, faz um camaleão incorporar suas matizes, o vento volver a curva e um pensamento vagar em despropósito.
Um homem e um distúrbio. Sim, tinha caráter; sim, era digno. Mas algo o afetava. Sofria irrefletidamente. Sensibilizava-se de quase tudo, embora, por instantes, revelava-se sisudo e severo. Tinha bom senso de humor, ótimo senso de humor, podia irradiar vendo um cachorrinho auferir-lhe gracejos; mas de vez por outra, no meio de um largo sorriso, suas maçãs se lavavam de um líquido choroso que, todavia não eram alegres. Não, não eram alegres. Mesmo assim, com toda a crise, podia ser quem quisesse: o poeta e o menino, a elegância e o fracasso.
Estava envolvido numa atmosfera de miasma, contaminando tudo a sua volta, e para tanto só bastava-lhe imaginar. No seu bojo, não suportava ser quem era e com um suspiro enfadonho, e um pesar no semblante, com os cantos tortos da boca, desabafava:
- Pra que tanta sensibilidade se a abjeção humana é bem mais fascinante?
Dizia isso no propósito de diminuir sua carga, mas só conseguia perceber o quanto estava doente, o quanto estava afetado, e o peso da sua consciência parecia cair sobre si. Quando afundava o peso do seu corpo sobre os joelhos, envergando-se, era como um 'c', um 'c' de carência, e se curvando mais um pouco, um 's', um 's' de solidão, sucumbindo com o corpo, o seu desacordo.
Apesar dos inúmeros amigos e ciclos que freqüentava, seu vazio avançava à obscuridade, à devastação. Era insólito. Bem que por diversas vezes tentou se livrar da doença, mas seu estado de espírito não lhe permitia. Sabia que não havia cura, porque não haveria uma cura para sua crise de existência, e sabendo disso, progride tortuosa a vida.
Por que ser o que quiser, se no fim não há uma razão? A vida se desvela complexa, incógnita, paradoxal. Um momento que se tem uma única vez e pode durar um dia, meia-hora ou cem anos. Mas de qualquer forma, todo esse tempo é magnificamente igual, o viver, o existir, isso sim é verdadeiramente o sentido da simples permanência. Ah, pobre do homem, pobre do homem que como esse, esteja disposto a ser o que queira e ainda tente descobrir razão de viver.
17 setembro, 2008
Ru-iv-a
19 junho, 2008
Verborragias insanas resgatadas numa noite inquietante de uma conversa sem futuro

Renoir_Promenade
Aí me ocorre uma falta de resposta. Eu fico pensando em algumas palavras pra dizer, mas eu nem sei o que; e fico com a obrigação de que seja bonito e provoque as melhores sensações. Mas acho isso impossível, porque vens em movimentos tão verdes que inspiram esperança e me deixam sem calço. Só me restam uns suspiros extasiantes, mas as palavras alcançam tantas dimensões e proporções que tens de saber do seu uso. E eu gosto tanto dos movimentos verdes, quando eles formam blocos grandes entre os meus azuis. Mas que movimento vacilante! intermitente. Os azuis se acabam chatos. Uns azuis, aqui, que ficam metidos a besta, querendo talvez impressionar ou seduzir, mansos, acabam na verdade dos verdes. E às vezes, eles se encontram e formam um novo tipo de cor, mais consistente, como se precisassem um do outro para não deixar de existir, e persistem.
Não parece verdade. É como se abraçasse uma vontade, mas aí já é verdade, não é? Uma verdade para ser eternizada. E o que cabe nesses momentos de imensidão eterna?
Amo quando eles passam da virtualidade, ultrapassam mais essa dimensão, completando contorno e preenchimento. Que eu divido, para não serem só meus - para que sejam nossos.
E espero!
02 março, 2008
Vitamina C
Tempo fazia que ele andava com o coração nas mãos, a vagar de um lado para o outro a procurar por alguma coisa, algo que lhe fizesse enfim sublimar toda aquela condensação de dores remotas... dores que não lhe cansavam de atormentar os sentidos. Saiu de casa naquele dia sem grandes propósitos, encontrar amigos e sorrir eram os traçados planos. E menos ou mais os fatos assim aconteceram. Abraços mornos, líquidos sorridentes... ah! e a lua? Que ele nem poderia saber como viria iluminá-lo.
A realidade lhe parecia suspensa por algum tipo de bondade da vida, ela lhe sorria incansavelmente... mas, já havia a duvida de quem estava sorrindo pra quem. Os pés lhe davam a incrível sensação de flutuar loucamente sobre a sua própria vida: agente e platéia dela em um só instante. Seu coração encontrara, enfim, um momento de suspensão, de calmaria... e como ele poderia estar ali para todo o sempre. Fazer morada, juntar gravetos, reabilitar seu organismo.
O mundo naqueles instantes não passava de um algodão doce: uma lembrança morna da infância. Um sorriso roubado, escancarado em algum palco medíocre de circo, uma tabuada executada com perfeição, e até mesmo aquela dor sentida após a queda... mas aquela era uma queda lúdica. As cicatrizes hoje em seus joelhos são motivos de orgulho e não de paranóia.
Ele podia em qualquer lugar estar, mas o universo fez com que ali estivesse. E a sensação era de satisfação, uma vez que mesmo estando na terra, consegui submergir, adentrar na bolha desordenada e inebriante da felicidade. Por que não alguém para dividir esse pulsar? Um segundo corpo onde o sopro dessas palavras pudessem também fazer morada?
Ele fulgurava em tons de amarelo e encarnado diante da luz lunar e escondia um segredo no seu cenho e curvas risonhas de canto de boca. Fazia movimentos rápidos e curtos como se quisesse libertar algumas concordâncias, mas parava na levitação de nossos pés. E eu sustentava isso derramando doce da boca, lacrimejando caramelo e pincelando com as pálpebras, num movimento longo e lento – como se para concordar com os curtos e rápidos dele.
Fomos embora com a certeza de que outros dias viriam para sustentar tais momentos indeléveis. Como se registrássemos para uma fotografia que seria guardada num álbum de boas fotos, que puiriam com o tempo e formariam manchas amareladas e expressivas. Beberíamos dias de por vir, novos líquidos sorridentes entre amigos. Despropositadamente: num dia de domingo, num chá, num filme antigo, numa praça, num novo encontro, ao telefone ou por carta, num café e talvez muito por acaso ou não por acaso teríamos um momento revival, de transcendência mútua. Mesmo com os constrangimentos. Ele falaria do conforto de estar entre meus abraços duradouros e de minha fragilidade contra o mundo. E eu cairia num tempo sem medidas de permutas filosóficas. Falaríamos sobre o tempo e de como não ser absoluto, de como as noites despertavam e os dias nunca nasciam iguais. Sobre a cor azul e suas demasiadas formas interpretativas. E como isso estaria eternizado! Como fazer morada disso? Ele ia se despedir logo depois de um conhecido silêncio e voltaria de novo com seu segredo secreto. E num movimento de cadeia, os tempos formariam ciclos por através de vários momentos. Os ponteiros girariam grandes e volumosos círculos, entre vários ciclos, entre várias outras luas e até mesmo obscurecidos pelas nuvens pesadas e azul-acinzentadas de um dia de chuva, ou sob um sol de domingo. E eu me atrasaria nesse tempo enquanto ele se perdia entre passado e futuro, já que não conseguia coordenar o presente. E vagava em divagações... vagava entre ondas gorgolejantes de sofrimento e de não anunciação. Marés carregariam consigo o encanto das formações dos desenhos da areia, e das pedras, e da espuma que secava com o vento ‘briseiro’ de cada manhã litorânea.
19 fevereiro, 2008
18 fevereiro, 2008
Temente Orfeu
28 junho, 2007
Trip

Sentei, num dia nada cálido. Conhaque. Música deprê com bastante gelo acompanhando a viagem pelo interior. Parei em pequenas estações – rodoviárias? – de vias plurais. Pensei no óbvio, no contra, no acaso e o que não se pensa, catatônico?, foi assim...
Uns zumbidos, umas cores, sons e sem odor. O que dizer do homem que não sente os odores? Tentei lembrar o último pensamento e resolvi escrever, mas o que? Começar pela primeira pessoa não foi o ideal, mas e se fosse?
A primeira linha, certamente, se em condições criativas, começaria com um verbo. E se na tentativa mudasse o tempo – relógios não o acompanhavam.
E mudou o tempo como se mudasse de qualquer coisa, por mais banal que fosse. Pensou em (vírgula ou dois pontos?) como muda de roupas. Mas seria essa a construção do óbvio, do clichê.
Continuou. Esqueceu-se do que havia se predestinado. E com todas as vulnerabilidades mórficas, sintáticas, ortográficas e gramaticais insistiu! Foram minutos quando se viu interrompido!
A presença do outro é sempre um bloqueio: primeiro, pela quebra do pensamento e do silêncio da casa vazia – um choque! Acordes... notas... samplers... vozes... dão continuidade à interrupção.
E se a viagem acabar? Afinal de contas é a última música. Se a condição – se, se, se, se – permite a depressão, quem trocará o CD? O deprimido? O estranho?
Mas...
Pensou que era louco, como se não bastasse. Involuntariamente hard. Um hard rock dá lugar ao indie, ao “indi”. Terá ele a certeza de estar escrevendo um diário? Quando ele se sentou? Provavelmente não.
Mas os tempos mudam. Ou ele muda o tempo? Pensou em como poderia não ter sido, mas mudou.
Uma quebra de raciocínio, uma seqüência irracional – onde está a lógica tão cabível nos momentos de sobriedade? Perguntou-se como poderia estar acontecendo tal (tal o quê)/ entre tantos porém – de pensamentos quando chegam as outras pessoa. Parou e não sabe se vai voltar. A inspiração. Essa lhe faltou? E a determinação. E a embriagues? Ou o quê? Os movimentos, novamente os movimentos, novamente o tempo, o tempo agora é outro. Mudou a música, clássico rocker, clássico viagem pelo interior, clássico maníaco depressivo, lisérgico das décadas anteriores.
E lembradaspessoascomopassardosmaisqueminúsculostempos. Pessoas certamente são a evolução, ou revolução de tudo. Pensou em listar, todas elas. E a ordem de importância. Todas eram, só variavam os níveis, mas o tempo, esse, independente de qualquer intempérie, sempre voltava, e voltava sem tempo, talvez porque eu p teria perdido.
Na balburdia, nas esbórnia, no escarcéu (eu sempre quis juntar essas três palavras e nunca tive êxito) desse tempo é que retorna ao conteúdo.
Quizás alguém descubra tal talento – seria isso mesmo? – pensava, e fazia isso tão obviamente autobiográfico – me reconhecerão mesmo que postumamente? Uma dúvida eterna, uma dádiva. Tudo por uma noite de entorpecentes. Seria verdade? Seria real? Creiamos que não (não entremos na qualidade de crônica!?).
Fragmentos, ah! Fragmentos. Lembrou enquanto escrevia ‘fragmentos’ que encontrou uma da família Fraga; desde sua infância não a via, e era linda apesar de sua agudez gritante contra a dele - surpreso, percebeu que ela se desmistificara, era agora apenas um rosto; perdeu-se dela a ingenuidade e beleza matutas. De repente, matuta e linda mas corrompida pelo capital, pela letra e pela luxúria.
Autobiográfico. Velho. Era isso. Estava velho. Fragmentou, na condição de tempo, a sua vida. Quebrados. Espaços que caberiam poesia, se desta não tivesse enjoado. As dores do mundo! Teriam lhe afetado? Saberia quem... ninguém saberia.
Fragmentos, ah! os fragmentos!
Constituição, era isso, a reconstituição do que deveria, ou era, ou se tornava, ou estava se tornando, ou tantos outros ‘ous’, ser reformatado. Pensou na razão e na razão de ter usado a palavra ‘reformatado’. Pois onde se encontrava no tempo, no seu tempo, o tempo?
Levava essa discussão consigo psicofisicamente. Tempo verbal, tempo modal, tempo de amar e tantos outros tempos – quais deles escolher? quais deles se envolver? quais deles ser realmente o verdadeiro tempo?
Angustiado com as condições, conectivos, aditivos e justificativas, se esquecia do próprio texto – o simples, sem firulas. Quando pensou ter acabado – tinha apenas começado – percebeu o quanto se charfundara, atolava, metia-se, envolvia-se num mundo de insanidades saudáveis e inaceitáveis como as grandes paroxítonas e proparoxítonas da corrente oração (ordinada, subordinada, ordinária?).
Realmente o tempo me controlava e advertia: onde está Guimarães Rosa ou de Melo Neto? Respondia um silencia... e quando tornou-se som – desafinado.
O tempo! o tempo!
Uma linha! uma seqüência de pensamentos – atemporal, imoral, imortal – desavisados. “This is the end, my only friend, the end”. Morisson me convidou ao caos e lá…
Num tempo, numa meia sola de tempo, se metamorfoseou, como uma borboleta.
Repetiu, como costumeiro, a palavra indubitavelmente. E indubitavelmente.
garota
O gerúndio longínquo

Pensou num gerúndio longínquo naquele momento de vida. Transcorria seus valores e comportamentos numa trilha sem destino. Era rápida e lenta; oscilava nesse momento de retardo e ligeiro, mas o gerúndio incongruia nesses intervalos. E inconguia... vagando... divagando... pensando...bufando qualquer tolice; dançando qualquer valsa, balançando qualquer movimento. Andando... caminhando qualquer caminho. Incongruindo.
Incongruindo do que?
Tragou seu primeiro e guloso e fumegante gole de café. Diluiu suas primeiras reflexões do dia, que sempre vinha acompanhada de mau-humor, nessa pausa longa. A essa altura a dor de cabeça era menor e também o seu dispor com o próximo. Seria aceitável um sorriso de canto de boca.
Duas! Já era a quarta ou quinta. Seis! meia garrafa de café.
Eram dois... eram dois... tudo vinha em par! O café e o copo. O sol e o dia. A mão e sua símea. O abre e fecha. Tudo vinha em par, tudo! Tudo vinha em par senão o seu par.
Seu par era soberana. Atravessava a rua e tinha medo do sol. Parava. Não ela. Ela parava o sol. Ela descia o sol à sua cama e brilhava, ofuscando-o. Era dia e ela era o sol. Ela era Deus mandando que o sol se assentasse.
Ele olhou a rua e a menina soberana que a atravessava.
E só olhou. E queria o próximo dia, quando ela se cansasse e o sol dormisse. Era cedo. Era tarde? Ela passou. E ele se passou.
Acordou. Pausou num gerúndio duradouro. Não tinha café nem o seu forçado e cínico sorriso de canto de boca. Foi ver a rua e soberana a menina ordenava que o sol descesse e seu coração parasse. Não tinha café nem menina.
Agora era noite e tentava achar o sol que desceu corando a maçã alvíssima e sardenta num gole tragoso de conhaque. Não encontrava o brilho nem a graça enleante. Não encontrava os pontos escuros, porém luminosos, nem a seda negra transfigurada cabelo, nem um olhar cativo de jaboticaba, nem um sibilado, nem uma curva sinuosa, nem um som agudo e quebradiço de menina sorrindo sua graça.
Eram dois! Três, cinco... meia garrafa de conhaque. Envelheceu sua beleza no torpor. Marcou no seu rosto linhas decaídas. Marcou como se ele fosse o cinderelo aguardando sua princesa chegar cavalgando e galgando seu amor num grande e robusto cavalo branco de conto de fadas. Um cinderelo ao avesso. Um cinderelo sem sua graça e traje de gala. Um cinderelo sem sua torre – enclausurado nas entranhas de sua masmorra.
Parou num gerúndio longo... mas tudo vinha em par – agora por efeito borracho. Dois copos. Dois cinzeiros. Dois cigarros soltando suas lufadas bem tragadas. Dois garçons esperando as duas próximas doses. Tudo vinha em par, senão o seu par.
Um gerúndio longo e mais café. E a menina continuava arrebatando o sol. Um gerúndio longo e café, e café, e café. Cansado do café foi a rua olhar sua menina atravessa-la e imperativamente fazer o sol descer à sua cama. Mas vieram as nuvens que fizeram gotejar pingos pesados e molhados sobra a seda negra e curta. A seda amarrotada e ensopada que balouçava num movimento tardio e fragmentado, formando linhas curvilíneas e montanhas contra o desenho da chuva que caía densa em seus tons de cinza e azul-royal. Corria desenhando tais formas, corria em busca de abrigo. E se estivesse na condição de guarda, estaria lá, estendido com seu guarda-chuva, esperando a menina e esperando a chuva passar. A chuva não passava e passava a menina. Quanto quis que seus braços se abrissem numa grande copa protetora, mas seu estilo cinderelo obrigou-o a se sentar na escadaria, de pé estendido esperando seu sapato. Sua menina e sua seda não vieram mais uma vez.
Pausou num gerúndio longo. E não veio o café. O mau-humor. Nem a menina descendo o sol à sua cama.